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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

RIQUEZA E PROSPERIDADE: AINDA O MODELO POMBALINO



Os brasileiros estão descobrindo que vale a pena ser rico. Parece banal a afirmação, mas há, realmente, uma mudança social importante. Após quase trinta anos de vida democrática, a sociedade brasileira experimenta as vantagens da estabilidade econômica prolongada, abertas com a adoção, há dezesseis anos, do Plano Real, além de outras medidas no terreno econômico, como a aprovação, nos governos de Fernando Henrique Cardoso, da Lei de Responsabilidade Fiscal e das privatizações que ensejaram a democratização de serviços, como a telefonia, que até os anos 90 constituía uma espécie de monopólio entregue às máfias de funcionários públicos corruptos das antigas operadoras estatais.

Lembro-me de que, para comprar o meu primeiro telefone, lá pelos idos de 84, no Rio de Janeiro, tive de pagar ao funcionário da Telerj o preço equivalente a um fusquinha. O certo é que a economia, aos poucos, foi se desengessando, já a partir do primeiro governo eleito pelo voto direto no ciclo da Nova República, o de Collor de Mello, que se queixava da baixa qualidade dos nossos automóveis. Depois chegaram os anos acelerados da globalização, o Brasil não teve como fugir a essa força voraz. Aos governos social-democratas de FHC, que deitaram as bases da democratização econômica sucederam os dois governos presididos por Lula. Abriram-se as fronteiras do mercado interno, vieram as políticas que favoreceram o crédito popular e as pequenas e médias empresas, multiplicaram-se, pelo Brasil afora, os focos de crescimento econômico e chegamos aos paradoxais momentos em que nos encontramos, com uma economia relativamente acelerada, em meio a uma falta terrível de investimentos em infra-estrutura, mas com uma dinâmica que poderia ser maior, não fossem as trapalhadas da burocracia lulo-petralha e da corrupção.

Nesse ambiente de aceleração do crescimento, surge no Brasil a nova onda dos ricos, com uma mudança de mentalidade: vale a pena ter dinheiro decorrente do trabalho e de empreendimentos bem-sucedidos. O empresário, que antes se apresentava, apenas, como “remediado”, por temor ao seqüestrador ou ao fiscal corrupto da Receita Federal, começa a tirar a cabeça do lado de fora e a proclamar, em alto e bom som, que vale a pena ter sucesso econômico. Fenômeno sociológico novo, num país em que a riqueza era tratada, até há alguns anos, como condição pecaminosa (enriqueceu, roubou de alguém), apreciação estimulada pela burra militância esquerdista (lembremos que Lula e o PT foram contra o Plano Real, em 94), bem como pela Igreja progressista que passou a fazer da pobreza a grande manchete para ser apresentada aos quatro ventos. Estamos diante da mudança caracterizada pela síndrome “eike”, do empresário bem-sucedido que em poucos anos chegou a figurar entre os oito mais ricos do mundo e que proclama, sem nenhuma modéstia, que pretende ser, em quatro ou cinco anos, o homem mais aquinhoado do Planeta.

Mudança importante, mas não suficiente para fazer do Brasil um dos ícones do capitalismo mundial no século XXI. Porque o modelo “eike” é, ainda, pombalino. Esse modelo engrandece o empresário bem-sucedido (o que é bom), não tem pejo de proclamar que vale a pena ter sucesso, gera empregos e receita para o Estado. Até aí, tudo bem. Mas esse modelo possui uma raiz podre, porquanto ainda está atrelado ao favor estatal, surgiu ao ensejo dos generosos créditos oficiais do BNDS, que é, atualmente, a agência governamental que cuida de premiar os “bons” empresários, aqueles que se acolheram docilmente ao Estado-empresário pensado no século XVIII por Pombal. Eike Batista repete com sucesso ainda maior a saga do seu pai, o empresário Eliezer Batista, profundo conhecedor dos meandros do capitalismo brasileiro no seio do Estado Patrimonial, nas décadas de 60 a 90 do século passado. Seríamos um país em que apontaria um novo capitalismo, se os nossos mega empresários tivessem se consolidado independentes da ajuda estatal, se não tivessem créditos subsidiados pelo cartório governamental, se constituíssem uma classe independente da sombra do Leviatã.

Significa isso que não é admirável a nova geração de mega empresários brasileiros? De jeito nenhum. O fenômeno apontado significa, apenas, que não há coisas novas sob o sol na terra de Santa Cruz, onde ainda o Estado pauta, de forma patrimonialista, a iniciativa privada. “Capitalismo Rio Amarelo”, dir-me-ão os sinófilos. May be. Mas, talvez, o que tenhamos é algo do mesmo: mais Pombal. A diferença que medeia hoje entre nós e os chineses, é que eles sabem para onde vão, investiram pesado em estudos estratégicos (há, atualmente, na China, perto de 1.400 centros de estudos desse tipo, enquanto nós não cultuamos o “pensamento estratégico”, tido, burramente, pela esquerda acadêmica, como parte do “entulho autoritário” herdado do regime militar). Assim, os nossos novos mega-empresários não chegam aos pés dos novos capitalistas chineses, porquanto estes obedecem a diretrizes estratégicas longamente amadurecidas pela intelligentsia do país asiático, enquanto os nossos “eikes” ainda têm de se acolher à cooptação exercida pelos donos do poder, que são embalados pela perspectiva, única e imediatista, de “como ganhar a próxima eleição” e “como evitar a fritura do próximo ministro”, ou “como evitar que o Supremo condene a turma de Ali Babá e os quarenta ladrões”. É a perspectiva do “herói sem nenhum caráter,” colocada como modelo cultural e como norte estratégico pela petralhada no poder.











Um comentário:

  1. É uma pena que o mito do "vindo da pobreza" sustente, ainda, a popularidade de certos políticos em um país que se diz democrático. Mito alimentado por intelectuais de esquerda, nacionais ou importados, que idealizam a "beleza da pobreza e da marginalidade" em seus filmes, documentários, discursos, etc., assentados em seus luxuosos apartamentos [nada contra o luxuoso].
    Como diz um conhecido meu:
    - “Ser pobre é muito bonito mesmo, eu queria ser pobre só um dia... pois todos os dias não dá!”

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