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quarta-feira, 17 de agosto de 2016

O PATRIMONIALISMO BALANÇA MAS NÃO CAI


Dizia o general Figueiredo que o Brasil precisava fazer a sua Revolução Francesa. Concordo. A sociedade brasileira está cansada com o altíssimo preço que paga para manter funcionando a máquina patrimonialista, que cresceu e se fortaleceu absurdamente durante os governos petistas. O patrimonialismo de séculos, que ainda nos mantém cativos do atraso, esse é o nosso Antigo Regime.

O fenômeno de sociedades cansadas de serem sugadas pelos zangões improdutivos das burocracias corruptas não é novo. Uma das primeiras grandes revoluções da modernidade, a Francesa, aconteceu justamente porque a sociedade se cansou da minoria que a explorava: o denominado "primeiro estado" (integrado pela nobreza e o alto clero) e que, como denunciava Sieyès no seu opúsculo O que é o terceiro estado? (1789) era constituído por apenas 180 mil felizardos burocratas que se apropriavam do orçamento pago pelos impostos de 25 milhões de cidadãos. 

No caso brasileiro, uma improdutiva e atabalhoada burocracia que já chega, com os seus dependentes, à casa dos 10 milhões de indivíduos, simplesmente se apropria dos impostos pagos pelos 190 milhões de membros restantes da sociedade civil. Essa é a raiz do descontentamento que levou a classe média às ruas desde 2013. Esse é o motivo do impeachment da Dilma. Essa é a causa da enorme rejeição ao Lula e à sua corja, que potencializaram a gulodice do Estado cartorial em nome da "moralidade republicana".

O Antigo Regime brasileiro, após o Mensalão e o Petrolão, balança. Mas, por enquanto, não cai. A tradição patrimonialista tem a força das práticas seculares que estão presentes no interior das células do organismo social. O Patrimonialismo forma, ainda, parte do nosso DNA. Todo mundo almeja por mudanças. Mas, como dizia, dia destes, o presidente do Banco Central, cada um cuida do seu pequeno quinhão ignorando o resto. Assim não dá. Ou todos aderimos às mudanças necessárias,  ou as coisas continuarão como sempre e afundaremos em profundezas venezuelanas. 

A maior parte dos Congressistas dizem apoiar as mudanças apresentadas pelo governo Temer na condução da economia. Mas, na hora do "pega pra capar", que é quando as matérias são votadas, muitos se fingem de marcianos e votam contra. Pior: nas Comissões encarregadas de discutir as propostas para por limites à fome do Leviatã patrimonialista, os ilustres representantes do povo simplesmente tentam desmontar os projetos veiculados pela sociedade civil ou pelos seus porta-vozes ad hoc, como é o caso das 10 propostas apresentadas ao Parlamento pelo Ministério Público, que já estão bastante deformadas na respectiva Comissão, com a finalidade de favorecer os larápios. Os deputados malandros optaram, também por simplesmente se escafederem das sessões em que se votam matérias incômodas à gatunagem institucionalizada. 

E nem falar de setores da sociedade afinados com a burocracia patrimonialista, como as centrais sindicais. Uniram-se em torno a manter incólume a atrasada legislação trabalhista que nos escraviza. Nada de mudar a idade da aposentadoria para níveis praticados pelo resto do mundo. Aposentadoria quanto antes e integral! Isso simplesmente garantirá a falência definitiva do sistema.

A esperança por respirarmos ares menos contaminados pelo estatismo arrefece. Tomara que não morra. Também pudera: os governos petistas foram agressivos em termos de crescimento descontrolado da presença do Estado na economia e na vida da sociedade como um todo, abarcando inclusive as políticas culturais, submetidas ao descalabro de ONGs que propiciaram a gatunagem lulopetralha e que se apropriaram dos dinheiros públicos para reforçarem, do ângulo da cultura, a imagem e os interesses dos larápios. No terreno econômico, Lula e Dilma foram mestres em estatismo: entre 2003 e 2015 criaram nada menos do que 41 empresas estatais, gerando um rombo de 8 bilhões de reais torrados pelos "companheiros".

A coisa fica ruim se dermos uma olhada para o panorama internacional. Obra recente organizada em Washington pelos politólogos Larry Diamond, Marc F. Plattner e Cristopher Walker, intitulada: Authoritarianism Goes Global: the Challenge to Democracy (publicada pelo International Forum for Democratic Studies e pela John Hopkins University Press), destaca que os cinco grandes do patrimonialismo global estão bastante ativos para desmoralizar os Estados Unidos e a União Européia, bastiões das democracias liberais. Ora, esses cinco grandes Estados Patrimoniais são: a Rússia, a China, o Irã, a Arábia Saudita e a Venezuela e são financiados, em grande parte, pelo petróleo e pelo agressivo comércio exterior, como é o caso da China. Todos esses Governos organizaram agências de publicidade e de notícias, em território americano e na Europa, visando a desmoralizar as potências ocidentais e vendendo, como grande solução civilizatória para a globalização, variados modelos de autoritarismo, apoiando, inclusive, como fez o presidente Chávez da Venezuela em anos anteriores, partidos de esquerda, tanto na América Latina quanto na Europa (lembremos que os petrodólares venezuelanos estão na raiz de novos partidos espanhóis como Podemos e outros). Como se pode observar, o velho despotismo oriental está ativo e quer varrer do mapa as conquistas da civilização ocidental.

Ficaremos passivos diante da agressividade dos Estados Patrimoniais na defesa desse tosco modelo? Acho que os liberais e os conservadores podemos fazer ainda mais do que se faz nas redes sociais e na área da denominada "resistência cultural". Podemos, por exemplo, como fez Raymond Aron, na França que se reerguia das desgraças da guerra, ao longo dos anos 50 do século passado, reviver as ideias liberais voltando a estudar clássicos da defesa da liberdade como Tocqueville. Podemos colocar na pauta de leitura das novas gerações, os clássicos do nosso liberalismo, Ruy Barbosa, Assis Brasil, Silveira Martins, Tobias Barreto, Miguel Reale, Roque Spencer Maciel de Barros, Antônio Paim, José Guilherme Merquior, Ubiratan Macedo, Meira Penna e tantos outros. 

E os socialdemocratas, que acreditam nas benesses da liberdade e da livre empresa, precisam defender para valer as privatizações que deram sustentação ao Plano Real, descer do muro da defesa suicida da esquerda patrimonialista, e passarem a bater forte no Lularápio e patota. Ainda estes meliantes são tratados com punhos de renda pela nossa esquerda dita "civilizada". É a tentação socialdemocrata de que falava Robert Dahl.


10 comentários:

  1. Falou e disse!!! Meu sempre lembrado e querido professor!!!
    Pena não termos homens como um Santiago Dantas para nos aliviar deste peso colonialista em que vivemos!!!
    Um grande abraço!

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    1. Obrigado pelo teu comentário, saudosa e querida amiga. Abração!

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  2. Falou e disse!!! Meu sempre lembrado e querido professor!!!
    Pena não termos homens como um Santiago Dantas para nos aliviar deste peso colonialista em que vivemos!!!
    Um grande abraço!

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  3. Excelente análise . Essa "esquerda dita "civilizada" e culta conseguiu fazer do Brasil um país de analfabetos.
    Vou enviar para muitas e muitos brasileiros que baterão palmas para o autor desta análise.
    Abraço da irmã,Cleusa.

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  4. A Lei de Ferro da oligarquia -melhor dito, das Elites socialistas - é uma teoria política, primeiramente desenvolvida pelo sociológo alemão Robert Michels que mostra como os chefes socialistas se agarram ao poder e esganam qualquer um que quer mostrar a verdadeira realidade, diferente da sua.

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